Que se foda o amor

Talvez este amor nunca morra, esta dor nunca cesse e a saudade nunca parta.

Não sei quanto tempo passou, faço questão de não contar os dias. Não sei quando partiste mas sei que não voltas. Não sei quanto tempo passou mas foram já pelo menos três luas cheias que vivi sem ti. Foram já demasiadas noites sem adormecer no teu abraço. Todo o tempo é demasiado tempo para viver sem te ter ao meu lado.

Foda-se mulher, o que nos fizemos? O que nos tornámos?

Talvez não seja suposto esquecer. Talvez não seja suposto viver. Talvez seja isto: amar-te e procurar-te em cada olhar com que me cruzo. Talvez seja isto: amar-te e viver querendo-te.

Onde enterraste o amor que dizias ter? Onde raio escondeste a saudade?

Talvez não seja merda nenhuma! Talvez eu não seja porra nenhuma! Talvez nunca tenha sido coisa alguma! Cansei de amar um vazio que não ecoa, cansei de amar uma rua sem saída, uma porta sem fechadura, uma noite sem luar.

Cansei de te amar. Não por não amar, porque foda-se, bem o sabes, amo-te até ao fim do mundo e até ao meu último suspiro. Cansei-me de te amar pela dor que me provoca, pela angústia que me consome e pela falta de oportunidades que me cria. Fartei-me de te amar porque sei que nunca haverá amor maior que este e isso destrói-me. Não vivo contigo mas também pouco me agrada fazê-lo sem ti.

Como podes estar tão presente em mim se não te vejo há meses? Como posso amar-te mais a cada dia se tu nem da minha existência tens memórias? Como posso agarrar-me a este amor se tu não tiveste dificuldade em deixá-lo ir? Como posso eu querer sequer amar-te?

Hoje cansei-me da vida. Hoje cansei-me de ti.

Hoje cansei-me. Que se foda o amor!

Carta para a "Karma"

Um dia o meu amor acabou.

Caiu-me ao mar e já submerso, quanto mais o tentava apanhar mais ele se afundava. Ao longe, enquanto mergulhava para o salvar, vi uma criatura maléfica aproximar-se e levar o meu amor com ela. Era feia, enorme e assustadora. Tinha mil tentáculos, aspecto asqueroso mas achava-se sereia, loucamente orgulhosa.

Partilhávamos o mar como casa, ela nas profundezas e eu na superfície, como tal ela nadava veloz, competia os seus mil tentáculos com as minhas duas pequenas pernas e assim, fugiu rapidamente levando-me o meu amor maior. Ria maquiavélica enquanto me olhava e gritava “não te preocupes, ninguém morre de amor”.

Um dia, em conversa, uma humilde camponesa contava-me que a maligna criatura ficava muitas vezes escondida no mar, debaixo da ponte onde várias vezes eu me sentava para contar ao mundo a beleza do meu amor, a sua pureza e imensidão, a ouvir e fazer planos para ela. A criatura, com miserável vida e sem saber nada de amor sincero, quis roubar-me o que era tão meu, o que era tão bonito e precioso: quis provar aquele que era o meu amor verdadeiro.

Na ilusão de um amor a criatura apaixonou-se – ou assim acredita ela – viveu iludida de que seria aquele amor dela para sempre, não querendo saber que o amor na verdade vivia noutra pessoa. A criatura fingiu ser humana, fingiu ter sentimentos, fingiu ser melhor e interessante por achar que ser ela própria não chegaria. De facto, nunca teria chegado, mas teria sido melhor.

A criatura, notando não ser suficiente, abriu os tentáculos, culpando o meu amor de que esperneava muito e de que tinha de ser livre.

Ao fim de alguns meses o meu amor livrou-se desse mal, subiu à superfície e procurou-me.

O meu amor, será sempre meu, será sempre para a vida toda, venha quem vier e haja o que houver. O meu amor era bom antes, mas agora é magnifico. A criatura, sem saber, deu-nos uma nova vida, uma nova oportunidade, um Upgrade. A criatura diz sofrer, diz bater...com a cabeça contra as paredes e não conseguir seguir avante .. então bicho, não dizias que ninguém morre de amor? Então levanta esse peso morto se conseguires e desaparece.

Entende que nunca ninguém me calou com flores (porque não gosto delas) e muito menos com jóias (sou mulher que compra as suas próprias jóias). Nunca ninguém te amou e o passatempo de verão acabou. Entende que não foi a roubares o que era meu nem a inventares coisas sobre mim que me conseguiste afastar do meu maravilhoso destino que se chama AMOR.

Sabes criatura, de ti tenho apenas pena. Devias ter entendido que o meu amor tinha acabado, mas não morrido.

No fundo, foste a melhor pior coisas que podias ter acontecido: se não fosses tu, talvez não me tivessem dado valor. Dizem que há males que vêm por bem.

Agora se faz favor, abre os olhos para a tua vida antes que percas todos ao teu redor. Agora, se faz favor, desaparece das nossas.

(a)mar

Hoje o arrependimento matou-me. Hoje entrei naquela minha grande casa que é o mar, pela primeira vez em cinco anos. Pela primeira vez em tanto tempo, mergulhei de corpo e alma no meu amado mar. Assim que entrei, assim que me senti nele, sem pé, sem medo, sem dor, matei-me de arrependimento.

Arrependi-me de nunca ter entrado contigo. O mar é tão meu, como é que nunca consegui partilhá-lo contigo? Ou melhor, como nunca deixei que o partilhasses comigo? De seguida, mil questões. Porque raio nunca fui àquele bar dançar contigo? Por alma de quem é que nunca desci num escorrega contigo? Porque nunca te fiz a vontade de nos atirarmos de um avião? Como é que deixei de fazer tanto, de partilhar tanto, de te amar mais ainda, só por medo?

Maldito medo. Maldito sejas!

Hoje, entrei no mar, de alma despida e descoberta de medos. Entrei nele, olhei ao céu, pensei em ti e enchi-me de paz. Amo-te em cada pequena coisa que viva, amo-te ainda em cada pedaço do meu dia e das minhas memórias. Que coisa poderosa, a memória.

Hoje, cruzei o meu olhar com o teu e amei-te. Amei-te como sempre, e mais um bocadinho ainda. Como pode este amor crescer mesmo sem já não estares aqui? Que estranho amar-te ao mesmo tempo que me amo.

Hoje, quis ligar-te entusiasmada a contar-te que já não tenho medo. Já não tenho medo de experimentar, de correr riscos, de me atirar ao desconhecido. Hoje, quis dizer-te que já não tenho medo de te perder. Hoje, quis lembrar-te que (ainda) não é tarde demais.

Hoje, queria dizer-te que das poucas coisas que se mantêm iguais em mim, é o facto de te amar. Hoje, quis dizer-te que te amo.

Hoje .. hoje entendi que (te) morri.

Esse teu olhar continua a apaixonar-me e não sei como fazer isto parar.